terça-feira, 3 de julho de 2012

Chapeuzinho Amarelo:
Autor:Chico Buarque
Editora:José Olympio
Ilustraçõs:Ziraldo
Resumo:“Uma forma de você lidar com o sinistro dentro de você, é nomear o sinistro. O que o Mário Quintana diz é quando há um dragão correndo atrás de você e soltando fogo, você vira para trás e diz ‘fifi fifi’ na mesma hora ele vira um cachorrinho”.

As palavras de Rubem Alves falam sobre o modo que lidamos com nossos medos. Afinal, quem nunca sentiu medo de monstros embaixo da cama, no armário, escondidos no porão ou no sótão? Eu mesmo posso confessar que tinha horror a ir ao banheiro, pois tinha um monstro com olhos vermelhos que sempre ficava a espreita na janela.

O medo do banheiro, ou do monstro, durou até que fui trancado no recinto a força pela minha progenitora e tive que encarar meus medos. Curiosamente, o olho assustador era apenas um conjunto de galhos e folhas com um formato estranho. Como lidar com os medos é o tema central do livro Chapeuzinho Amarelo, escrito por Chico Buarque e ilustrado por Ziraldo.


Chapeuzinho é uma menina que deixa o medo controlá-la. E de tão amedrontada, a menina deixa de fazer quase tudo para se refugiar e assim evitar os medos, o problema é que estes geralmente estão dentro de nós mesmos. A história muda quando ela está de frente para seu maior pesadelo, o Lobo. Mas olhando de perto o Lobo não é tão grande, nem tão feroz, nem tão assustador como ela tinha criado dentro de sua imaginação.

O medo que apavorava Chapeuzinho é o mesmo medo que amedronta qualquer pessoa em um momento de angústia e desespero. Mas basta estar de frente para o temor e ver que ele não é tão grande, comparável ao que criamos, para que logo vire um cachorrinho, assim como descreveu Rubem Alves.

Além da linda mensagem, outro aspecto deste livro que chama a atenção são os autores. Ziraldo, que é conhecido pelos personagens Menino Maluquinho, Geraldinho, Tininim entre outros, imprime seus traços característicos e sempre coloridos, vivos e inconfundíveis.

O texto vem com a assinatura de Chico Buarque, que no campo literário é muito respeitado por romances como Budapeste e Leite Derramado. Mas no livro infantil da menina de chapéu amarelo é o lado musical de Chico que se destaca. O texto corre como versos, que são impossíveis de serem lidos mentalmente, precisam der declamados, entoados e cantados.

Não podemos deixar de destacar a analogia ao famoso conto europeu da Chapeuzinho Vermelho. A similaridade está apenas no nome da história e no lobo, mas o modo como a menina lida com seus medos em conjunto com a poesia do livro expressa nos versos de Chico Buarque e nos traços de Ziraldo, justifica a mudança na cor do chapéu, com um toque genuinamente brasileiro.

Reinações de Narizinho:
Autor:Monteiro Lobato
Editora:Globo
Ilustrações:Paulo Borges
Resumo:Ela virou princesa no fundo do riacho, conheceu o Gato Félix e Aladim e curtiu uma coleção invejável de aventuras com a turma do sítio. Reinações de Narizinho encanta gerações há 80 anos.
Dona Aranha Costureira tirou do armário de madrepérola o vestido feito de "cor do mar". A noiva, tonta de admiracão, teve de se sentar para não cair. "Que maravilha das maravilhas!", disse Lúcia, prestes a tornar-se princesa do Reino das Águas Claras. Peixes azuis, dourados, de todas as formas e cores nadavam na fazenda. Casar aos 7 anos com um príncipe escamado, debaixo d’água e tendo uma boneca de pano tagarela como dama de companhia, não é para qualquer uma. E não foi fácil celebrar a união com uma lista de convidados como a dela. Era sua segunda visita ao reino. Na primeira, o doutor Caramujo dera à boneca Emília as pilulas falantes - que fizeram dela uma grande "asneirenta". Dessa vez, a menina levou consigo também o primo da cidade, Pedrinho, o sábio Visconde de Sabugosa, feito de espiga de milho, e o Marquês de Rabicó, porquinho de gula incontrolável - comeu a coroa de rosquinha da noiva e quase estraga a festa.

Lúcia e a turma viveram tantas aventuras quanto permitiu o faz de conta. Criada em 1920, em A Menina do Narizinho Arrebitado, ela ganhou um volume especial de suas peripécias em 1931. O apelido pegou, assim como o universo encantado do Sítio do Picapau Amarelo, criado pelo escritor Monteiro Lobato. Reinações de Narizinho traz 11 histórias, com começo, meio e fim, escolhidas dentro de algumas de suas favoritas publicadas até então.
Reinações, como praticamente toda a obra de José Bento Monteiro Lobato, é um contraponto entre o arcaico e o moderno no Brasil da primeira metade do século 20. "No ambiente rural (o da infância do próprio autor numa Taubaté abandonada após o ciclo do café), vive Dona Benta, uma mulher extremamente culta, conhecedora da ciência e progressista", diz o historiador Raimundo Campos Bandeira, estudioso do trabalho do escritor. "Lobato dissecou a realidade brasileira."

É a avó, "uma velha de mais de 60 anos", a principal influência sobre Narizinho, com quem vive no sítio, junto com a "negra de estimação", Tia Nastácia, e a boneca Emília, "bastante desajeitada de corpo". Como se nota, alguns termos do livro retratam bem a época em que foram escritos (para não entrar na polêmica sobre o politicamente correto ou sobre a melhor forma de usá-los em sala de aula).

Os personagens já existiam em outras obras de Lobato, como Pedrinho, que surgiu em A Caçada da Onça, de 1924, e depois foram trazidos para o contexto do sítio. Outros "expandiram-se" de Reinações para suas próprias histórias publicadas mais tarde, como O Poço do Visconde, Histórias de Tia Nastácia e Serões de Dona Benta, todos de 1937. Como a primeira grande coleção de aventuras da turma, Reinações deu uma nova dimensão ao sítio, consolidando seu universo encantado. Seduzido pela ideia do progresso e admirador do cinema americano (o autor morou nos EUA de 1927 a 31), Lobato fez interagir com os personagens do sítio o caubói Tom Mix e o Gato Félix, além de figuras "clássicas", como Branca de Neve e Aladim. "É um verdadeiro trançar de histórias", afirma Bandeira. Até surgir Narizinho, "a literatura infantil praticamente não existia entre nós, havia tão-somente o conto de fundo folclórico", diz Edgar Cavalheiro em Monteiro Lobato - Vida e Obra. O primeiro livro para crianças publicado no país, Contos da Carrocinha (1896), era a tradução de historietas europeias. Com Narizinho, "Lobato faculta à infância brasileira, com o prazer da leitura, o sentimento das coisas da terra".

São novos valores, associados à ideia da autonomia e inteligência infantil. No sítio, não há pai nem mãe. A familia tradicional é rompida em favor da liberdade. "Só as vovós aturam crianças e deixam-nas fazer o que querem", escreveu Lobato. Numa época em que os pequenos eram vistos como miniadultos e não tinham espaço definido na sociedade, o autor foi visionário, diferenciando os dois públicos na forma como compreendem a realidade e a fantasia. Na pele de Pedrinho, ele até manifesta sua preferência pela maneira de pensar das crianças. O garoto é valente, não tem medo de nada (só "respeita" as vespas) e é ele quem protege Nastácia dos bichos do fundo do mar que vão visitar o sítio - animais inofensivos que metem medo nos adultos. Já Narizinho demonstra sabedoria invejável": concilia as mais distintas (e intensas) personalidades da turma, resolve conflitos e tem bom coração, sem ser submissa.

Empurrão

A entrada dessa literatura na vida das crianças, porém, precisou de um empurrãozinho do criador. Editor de seus próprios livros, Lobato doou 500 exemplares de Narizinho Arrebitado, a primeira obra que compôs Reinações, para escolas públicas de São Paulo. Logo ganhou muitos fãs entre os alunos. Após notar os volumes sempre sujos e surrados em várias escolas, o então presidente do estado, Washington Luís, mandou comprar e distribuir mais de 30 mil exemplares.

Foi uma verdadeira "avalanche nasal", nas palavras do autor. Narizinho nunca mais deixou de ser lida, reeditada e repaginada em todas as mídias. (E Reinações prenunciou esse sucesso.) Rendeu programas de TV, rádio, filmes, música, HQ, peças de teatro e está na internet. A primeira versão do Sítio para a televisão foi ao ar em 1952 na extinta TV Tupi. Depois passou por mais duas emissoras até chegar à TV Globo, em 1977. Essa adaptação (conhecida inclusive no exterior) ficou no ar até 1986 e ganhou novas temporadas, exibidas entre 2001 e 2007. Em 2010, aos 90 anos, A Menina do Narizinho Arrebitado foi transformada na primeira versão interativa de uma obra literária brasileira para iPad.

Empreendedor, Lobato não só costumava editar os próprios livros - se envolveu em várias polêmicas. Sua crítica à pintura de Anita Malfatti fez com que os modernistas (que liderariam a Semana de Arte Moderna de 1922) o tratassem como reacionário - diferenças superadas depois. Em 1940, ao defender a exploração de petróleo no Brasil (ele montou uma empresa de perfuração, em 1932), lançou um dossiê acusando o governo de agir contra o interesse nacional. Também atacou a política mineradora e foi preso no ano seguinte pela ditadura Vargas. Livrou-se seis meses depois graças a uma campanha de intelectuais. Ele não segurava a língua e lembrava Dona Benta, "que nunca havia mentido em toda a sua vida". Ela bem que tentou uma vez, com medo de que Anastácia não acreditasse no relato da viagem com pó de pirlimpimpim até o castelo do barão de Munchausen. Mas a cozinheira a corrigiu, pois já sabia das aventuras pelo burro falante. Nesse último capítulo de Reinações, aparece uma avó com a mente ainda mais aberta, como se verá nos Serões.
Defensor da liberdade de imprensa, o escritor teve problemas com o governo mesmo após o Estado Novo e mudou-se para Buenos Aires em busca de um pouco de sossego. Em 1948, um aneurisma cerebral o matou. À época, já andava triste (perdera os dois filhos alguns anos antes), tal qual Pedrinho no fim das Reinações, quando foi convocado pela mãe para voltar à casa e deixar para trás Narizinho e o Sítio do Picapau Amarelo.


Sob a fantasia

Elementos que influenciaram a construção dos protagonistas


Visconde de Sabugosa

É um sábio. Para o escritor, sábio não tem e não precisa ter personalidade bem definida e pode dizer coisas sem dar muita explicação.

Emília

Mostra como os brinquedos eram feitos com restos do que havia nas casas. Ao falar, transforma-se numa grande questionadora e, para Lobato, adquire independência.

Tia Nastácia

Representa a "preta quituteira", que não podia faltar em nenhuma fazenda. É uma figura maternal, extremamente amorosa, muito medrosa e mística.

Pedrinho

Reflete o próprio escritor quando criança: curioso sobre o mundo, interessado em aventuras e muito valente.

A Bolsa Amarela- “A Bolsa Amarela”, de Lygia Bojunga, é um dos mais premiados e populares livros infanto-juvenis brasileiros. Neste livro a autora conta a inteligente e divertida história de Raquel, uma menina que presta muita atenção a tudo que se passa a seu redor.

Raquel é a filha caçula da família, é a única criança. Seus irmãos, com uma diferença de dez anos, não lhe davam ouvidos, porque achavam que criança não sabe coisa alguma. Por se sentir muito solitária e incompreendida, ela começa a escrever para seus amigos. Amigos imaginários. Raquel, desde cedo, tinha três vontades enormes: vontade de crescer, vontade de ser garoto e vontade de ser escritora.

Um dia, ganhou uma bolsa amarela, que veio no pacote da tia Brunilda. A partir daí, a bolsa passou a ser o esconderijo ideal para suas invenções e vontades. Tudo cabia lá dentro. A bolsa amarela acaba sendo a casa de dois galos, um guarda-chuva-mulher, um alfinete de segurança e muitos pensamentos e histórias inventadas pela narradora.

O trecho destacado abaixo, repleto de imaginação e fantasia, ilustra bem quem é Raquel e quem ela quer ser: “Cheguei em casa e arrumei tudo que eu queria na bolsa amarela. Peguei os nomes que eu vinha juntando e botei no bolso sanfona. O bolso comprido eu deixei vazio, esperando uma coisa bem magra para esconder lá dentro....Abri um zíper; escondi fundo minha vontade de crescer; fechei. Abri outro zíper; escondi mais fundo minha vontade de escrever; fechei. No outro bolso de botão espremi a vontade de ter nascido garoto (ela andava muito grande, foi um custo pro botão fechar). Pronto! A arrumação tinha ficado legal. Minhas vontades estavam presas na bolsa amarela”.

Eis um livro mágico e envolvente, traduzido em diversas línguas. Vale a pena conferir.